O lar por uma nova perspectiva: tendências de consumo na pandemia

O momento é de incerteza e o importante é se adaptar, estudar os melhores caminhos, formar uma rede de apoio e estar atento aos movimentos do mercado. Após a leitura será mais fácil refletir: como eu ou o meu negócio pode aproveitar estas oportunidades?

O contexto atual fez com que muitas pessoas passassem mais tempo em suas casas. Esta realidade trouxe impactos na forma como usamos e sentimos o nosso lar. Ele passou a ser moradia, escritório, escola, lazer, restaurante, salão de festas e refúgio.

Os novos papéis e o aumento do tempo na nossa residência, colaborou para que algumas insatisfações ou necessidades ficassem mais fortes e latentes. Isto também aconteceu com você? Vocês compraram coisas para casa ou fizeram alguma reforma recentemente?

Pelo visto, aconteceu com muita gente, porque durante a quarentena, o consumo de materiais de construção foi maior quando comparado ao mesmo período de 2019. Segundo dados da Cielo, em agosto deste ano, as compras cresceram 36%, quando comparadas a agosto de 2019. Este mesmo Boletim mostra que a categoria móveis e eletro também obteve desempenho positivo. Em junho cresceu 20% quando comparado com o mesmo período de 2019.

Pensando nisso, nós da Favo, empresa de pesquisa de mercado, fomos a campo e identificamos que 79% das pessoas que participaram da nossa pesquisa afirmaram ter comprado algo para casa nos últimos quatro meses. A categoria mais comprada foi móveis (35%), seguida de materiais de construção, com 33% das compras.

O home office possivelmente colaborou para a demanda de melhorar a estrutura e o conforto da casa. O estudo da Opinion Box mostra bem esta carência, já que 39% das pessoas disseram que não possuem local para trabalhar em casa ou que o espaço não atende as suas necessidades. Tendo em vista que muitas empresas relataram que não têm previsão de retomarem a rotina nos escritórios, montar um bom ambiente para trabalhar em casa é preciso.

À busca do toque

Um ponto interessante, que pode ser considerado pelas empresas, especialmente de móveis, cama/mesa/banho e vestuário, é que a necessidade não atendida do toque, tão presente na cultura do brasileiro, mas ausente pelo distanciamento social, pode ser transferida para alguns objetos. Portanto, é possível que as pessoas prefiram comprar artigos que transmitam a sensação, o aconchego e o conforto de um bom abraço. Afinal, o melhor lugar do mundo é dentro de um abraço (Jota Quest).

Embora o consumo para o lar esteja se comportando de maneira positiva, 43% dos brasileiros afirmam que estão buscando versões mais baratas aos produtos que costumam comprar (fonte: Globalwebindex). Ou seja, o preço é um grande influenciador nas compras e muitas pessoas estão se abrindo à experimentação de marcas mais acessíveis. Este fato pode ser uma grande oportunidade para algumas empresas aumentarem sua clientela que antes era fiel à concorrência.

Nos últimos meses também é possível constatar outras mudanças de comportamento como a compra online, o “faça você mesmo” e o ato de cozinhar.

A compra online já vinha em crescimento no Brasil, mas deu um salto entre março e maio deste ano. Houve um crescimento de pedidos de 39%, segundo dados do Mercado Livre. O setor de casa/móveis/jardim cresceu 84% dentro da plataforma.

O “faça você mesmo” conhecido pela sigla DIY (do it yourself), também vem se destacando. Segundo o Google Trends, a busca pelo termo “como fazer” cresceu 50% em março de 2020. Uma pesquisa do Sebrae sobre este tema mostra que artesanato e utensílios domésticos são os itens mais confeccionados (29%), seguidos de reformas e objetos de decoração (18%). E você, se aventurou no DIY durante a pandemia? Eu não me aventurei, mas no tema Cozinhar, eu me arrisquei.

Assim como eu, 42% dos brasileiros afirmaram que passaram a cozinhar mais durante a pandemia (Globalwebindex). A minha filha e eu fomos testar uma receita de cookie, aquela típica americana, e as bolinhas de massa ficaram muito próximas e o resultado foi uma pizza de cookie, virou uma coisa só. Rendeu boas risadas e uma cookie em fatias. Com a nossa receita, nós colaboramos para um dado bem curioso, o aumento de 605% na compra de fermento em março. Eu aposto que na sua casa alguém fez pelo menos um bolo, pão ou biscoito nos últimos cinco meses, estou certa?

Então, voltando para a pergunta do primeiro parágrafo, conseguiu vislumbrar alguma oportunidade?

Colaborou com este artigo: Mariana Ferreira, psicóloga e sócia-diretora da Favo (www.favo.vc)